Confrontos : literatura infantil e autoritarismo

Garcia, Bárbara Zanon (2023)

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RESUMO: Literatura infantil é arte, por valer-se do uso plurissignificativo, metafórico e sofisticado na linguagem, ao refletir sobre a realidade em sua unidade contraditória. Além disso, é uma contribuição valiosa para a história e, do ponto de vista contemporâneo, é fundamental também para a alfabetização e a cultura. Publicados no Brasil em um período histórico marcado por censuras e autoritarismo, as obras O reizinho mandão e Sapo vira rei vira sapo, de autoria de Ruth Rocha, surgem como um meio de resistir, promover cultura e se impor diante um momento tão obscuro. Diante do exposto, o objetivo da pesquisa foi compreender o perfil de personagens monárquicos —por meio de uma análise literária— nessas obras consideradas clássicas da literatura infantil brasileira, publicadas em plena ditadura militar (1964-1985). Categorizada metodologicamente como uma pesquisa qualitativa, com procedimento bibliográfico-documental, analisou as obras em sua completude, abarcando desde questões que versam sobre a materialidade do livro, sobre a caracterização das personagens até o perfil estético da obra. As análises evidenciaram que as obras apresentam duras críticas a regimes ditatoriais: em O reizinho mandão, a discussão levantada diz respeito ao comportamento autoritário da figura de um reizinho recém coroado. O universo da obra criada por Ruth nos traz logo de início um contexto claramente autoritário de um reino extremamente divido em classes sociais. Desse modo, a análise do autoritarismo presente na obra vai além da figura birrenta de um reizinho jovem e cruel, como também se estende para todas as figuras monárquicas presentes no livro como um todo. Sejam elas antigos ou atuais herdeiros do trono, e até figuras de reinos vizinhos. Seguindo essa mesma linha de raciocínio, Sapo vira rei vira sapo ou A volta do reizinho mandão, torna-se o objeto de estudo para novas análises acerca da presença de personagens monárquicas de perfil cruel e autoritário. Em um contexto que visa traçar uma analogia com o cenário vigente da época, Ruth mostra o retorno de um governante mesquinho e autoritário, incapaz de permitir que as verdades sobre si sejam espalhadas publicamente. Desse modo, por meio da censura e perseguição, o reizinho tirano vai atrás de criar seu reinado perfeito, em que todos aqueles incapazes de aceitar tais condições absurdas, seriam trancafiados de modo a não poderem alcançar novamente sua liberdade. Assim como delineado inicialmente, concluiu-se nesse trabalho que as figuras monárquicas retratadas na obra, possuíam uma postura autoritária. Como esperado, em um contexto monárquico, o poder centrado nas mãos de poucos e a ausência de quaisquer meios de escolha de líder, trazem à história uma realidade dura, sobretudo para aqueles de classes mais inferiores e menos abastadas. Por fim, mesmo após tantos anos, concluiu-se como tais conteúdos jamais deixarão de ser atuais, pois mesmo com a consciência de ciclos de sapos buscando novas oportunidades de se transformarem em reizinhos mandões, a arte prevalece. Afinal, é por meio dela também que seremos capazes de, sempre que o momento chegar, juntar nossas vozes e lutar contra quaisquer formas de opressão e autoritarismo.