dc.description.abstract | RESUMO: A tese problematiza a apropriação da filosofia nietzschiana por um setor específico da pesquisa científica brasileira em Educação, cujo panorama teórico está associado ao que Ellen Wood (1996) nomeia como agenda pós. Considerado o atual cenário de mundialização neoliberal do capitalismo, sugere-se a seguinte pergunta-problema: em que medida a crítica de Nietzsche à instrumentalização economicista imposta pela expansão industrial à cultura e ao sistema educacional da Alemanha de seu tempo – elaboração encontrada na obra Sobre o futuro de nossos estabelecimentos de ensino (NIETZSCHE, 1979, 2014) – pode contribuir, em nossos dias, com a reflexão teórica acerca de propostas formativas emancipatórias, desvinculadas do imperativo mercadológico e pautadas pela afirmação de caracteres subjetivos como a independência intelectual e a liberdade criativa? O objetivo central do estudo é evidenciar que a contraposição entre as perspectivas crítica (antidogmática e anticapitalista) e relativista potencialmente concorre para a motivação de um reposicionamento da filosofia de Nietzsche no âmbito da pesquisa científica brasileira no campo da Educação. Em vista disso, defende-se a tese de que a filosofia de Nietzsche se filia a uma tradição de viés crítico – compreendida aqui como um território teórico comprometido com o antidogmatismo e com o anticapitalismo, respectivamente norteado pela negação da realidade dada e pelo vislumbre de sua superação. Nessa perspectiva, a partir da revisão de literatura, revela-se um esquecimento da contribuição de Nietzsche para as concepções críticas de filosofia da Educação, sobretudo no que diz respeito aos investimentos reflexivos dedicados ao ultrapassamento do sistema capitalista. Concomitantemente verifica-se, em grande medida, um alinhamento da pesquisa em Educação à recepção relativista do pensamento nietzschiano. A hipótese central da tese considera que Nietzsche, já em sua primeira fase produtiva, desenvolve uma filosofia crítica (HEIT; PICHLER, 2015; HEIT, 2018), não relativista (MARTON, 2011a; AZEREDO, 2012; MARTON 2020), perspectivista (CORBANEZI, 2013; MATTOS, 2013; DALLA VECCHIA, 2014) e adepta a um tipo peculiar de naturalismo – liberal, não cientificista, experimental, crítico e perspectivista (SCHACHT, 2011; LOPES, 2011a; HEIT, 2015; CARVALHO, 2018; ITAPARICA, 2018). A tematização do antidogmatismo de Nietzsche ampara-se na indagação sobre a legitimidade da caracterização do filósofo como inimigo das ciências. Trabalhamos para sublinhar a intensa, duradoura e historicamente necessária imbricação entre o pensamento nietzschiano e o campo científico. Com base em traduções de obras de Nietzsche (1979,1992a, 1992b, 1995, 1998, 2000a, 2000b, 2001a, 2001b, 2003, 2004, 2007, 2008, 2011, 2014, 2017, 2020a, 2020b) para a língua portuguesa e em posicionamentos assumidos por uma série de comentadores, concluímos que o filósofo se posicionou como um entusiasta do método científico e, ao mesmo tempo, como um crítico da herança dogmática, da especialização temática e da instrumentalização pragmática da produção científica. Quanto à tematização das transformações culturais e educacionais vigentes na Alemanha da segunda metade do século XIX, demonstrar-se-á que a obra Sobre o futuro de nossos estabelecimentos de ensino (NIETZSCHE, 1979, 2014) oferece respostas consistentes para a pergunta-problema que orienta o curso de nossa investigação. A contribuição do pensamento nietzschiano para a fundamentação da pesquisa educacional de viés crítico (antidogmático e anticapitalista) desenvolvida atualmente é ainda confirmada quando se recorre a um diálogo entre as análises do filósofo oitocentista e aquelas elaboradas pelo sociólogo contemporâneo Christian Laval (2019) em A escola não é uma empresa: o neoliberalismo em ataque ao ensino público, livro no qual se apresenta como premonitória a posição de Nietzsche quanto ao condicionamento da educação pelo imperativo economicista da eficácia. | pt_BR |
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