A resistência : o discurso híbrido de Julían Fuks como ferramenta de militância literária

Cordeiro, Luzimara de Souza (2023)

tese_doutorado

Tendo como corpus de investigação o romance autoficcional A resistência, de Julián Fuks, publicado em 2015, o presente trabalho tem o propósito de empreender uma reflexão críticoanalítica que pretende mostrar como a narrativa de Fuks, ao tratar da temática da ditadura militar, mediante sua escrita híbrida, contribui como ferramenta de militância literária. Ao entrecruzar o discurso literário ao histórico, esse relato autoficcional propicia uma leitura “a contrapelo” dos episódios do passado ditatorial da Argentina e do Brasil, pelo viés dos vencidos, marca de uma escrita pertencente aos tempos de “pós-ficção”, em que o fazer literário avança seus limites, ao abarcar outros discursos, que correspondam aos anseios da atualidade. A narrativa de Fuks manifesta diversas formas de resistência contra o apagamento das barbáries do passado e nos alerta sobre as possíveis formas de violência que ainda queiram ameaçar o momento atual. Um “romance de filiação” da literatura contemporânea brasileira que auxilia na política de memória desse regime de repressão, ao mostrar, por intermédio da pós-memória, os impactos da ditadura e do exílio, herdados por um filho de pais argentinos militantes da esquerda, que foram alvos da repressão desse período tenebroso da história. A resistência se apresenta, assim, como um fazer literário revolucionário, uma narrativa de pacto ambíguo que, marcada pelo diálogo entre ficção e realidade, não busca apenas recordar e, sim, reelaborar criticamente esse passado horrendo e os questionamentos geracionais herdados, propiciando uma escrita militante, por meio da politização da arte em oposição ao fascismo do presente e do futuro. Para abordar esses aspectos, iremos nos apoiar nos postulados teóricos de Walter Benjamin, Paul Ricoeur, Márcio Seligmann-Silva, Jeanne Marie Gagnebin, Eurídice Figueiredo, Diana Klinger, Evando Nascimento, Anna Faedrich, Vladimir Safatle, Carlo Ginzburg, Marianne Hirsch, Sigmund Freud, Michel Foucault, Juan José Saer, Antonio Candido, Carolina Silveira Bauer, Dominique Viart, Phillippe Lejeune, Serge Doubrovsky, Jacques Rancière, dentre outros cujas contribuições sejam pertinentes ao nosso propósito analítico

The present study aims to employ a critical-analytical reflection, taking the auto-fictional novel The Resistance, published in 2015 by Julián Fuks, as a corpus of investigation. It intends to show how Fuks' narrative and hybrid writing about military dictatorship contributes as a tool of literary militancy. By interweaving literary and historical discourse, this self-fictional report goes “against the grain” and provides a unique reading of the past of Argentina and Brazil under dictatorships. It looks at such episodes through the lens of the vanquished, which marks a style of writing characteristic of “post-fiction” times, in which literary work encompasses other discourses that meet nowadays concerns. Fuks' narrative presents different forms of resistance against attempts to erase the barbarities of such a past and warns the reader about possible forms of violence that might still pose a threat to the present. This “novel of affiliation” from contemporary Brazilian literature helps preserve the memory of this repressive regime by showing, through post-memory, the impacts of dictatorship and exile, inherited by the son of Argentine left-wing parents, who were victims of repression in this dark period of history. Thus, The Resistance serves as a revolutionary literary work and a narrative of an ambiguous pact marked by the dialogue between fiction and reality. It does not only seek to revisit the horrendous past of dictatorship, but rather critically re-elaborate it, as well as the inherited generational questionings, which fosters militant writing through the politicization of art as opposition to present and future fascism. To address such aspects, we rely on the theoretical postulates of Walter Benjamin, Paul Ricoeur, Márcio Seligmann-Silva, Jeanne Marie Gagnebin, Eurídice Figueiredo, Diana Klinger, Evando Nascimento, Anna Faedrich, Vladimir Safatle, Carlo Ginzburg, Marianne Hirsch, Sigmund Freud, Michel Foucault, Juan José Saer,Antonio Candido, Carolina Silveira Bauer, Dominique Viart, Phillippe Lejeune, Serge Doubrovsky, Jacques Rancière, among other authors whose contributions are pertinent to our analytical purpose.


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