Conhecimento tradicional das marisqueiras de Itapemirim- ES a partir das ferramentas metodológicas de ATER feminista

Coslop, Rogelielder Luiz Arpini (2023)

tcc

RESUMO: As marisqueiras pertencentes à comunidade de Itaipava, no município de Itapemirim-ES, trabalham com a coleta e comercialização do marisco desde muito novas e seus conhecimentos passados entre gerações se mantém muito fortes na localidade. O presente trabalho teve como objetivo o levantamento de informações acerca das organizações e dos conhecimentos sobre a mariscagem, e sobre os modos de pensar e agir nesse cotidiano, com o intuito de identificar e reconhecer o conhecimento tradicional das marisqueiras. Estas informações foram obtidas por meio de ferramentas metodológicas de Ater feminista, e coletadas a partir das experiências vividas como bolsista/extensionista no INCAPER. A partir dos dados construídos nesta vivência, aplicou-se em momento posterior à pesquisa, a metodologia de Godelier (1969) sobre a “Racionalidade dos Sistemas Econômicos”, e, por meio desses dados, foi possível caracterizar as estruturas de produção, repartição e consumo das marisqueiras. As marisqueiras utilizam ferramentas manuais para a realização de seu trabalho, como cavadeiras e facão para extração do marisco na pedra. Para armazenamento e transporte do marisco, fazem o uso de sacos de farinha de trigo ou sacos de ração de cachorro e utilizam a bicicleta para locomoção. Para proteção individual utilizam basicamente bonés, protetor solar e blusa UV. A coleta do marisco ocorre no momento em que a maré está baixa. Além disso, é sempre observada a fase lunar para garantir o sucesso da atividade. O artesanato, a produção de panificados e a faxina garantem um complemento de renda para as marisqueiras. As repartições dos produtos ocorrem de forma igualitária, sendo que a quantidade de marisco é dividida com todas que participaram de quaisquer uma das etapas de produção (coleta, cocção, despinicagem e embalagem). Já na atividade do artesanato, a repartição da renda adquirida na comercialização do mesmo acontece pelo volume individual de produção. A renda obtida com os panificados é mensurada pelas horas trabalhadas. O consumo pessoal ocorre mais frequentemente com o marisco e o pescado, já o artesanato e os panificados, de forma esporádica. Por fim, foi evidenciado por meio deste estudo que as marisqueiras de Itaipava desempenham papéis fundamentais na geração de renda e agregação de valor à economia pesqueira local, bem como desempenham um papel de fortalecimento e manutenção de um saber/fazer sócio cultural da pesca que vem sendo transmitido e ressignificado entre gerações. Portanto, são necessárias políticas públicas com foco no desenvolvimento de ferramentas que contribuam potencializando as estratégias de visibilidade, reconhecimento e valorização das mulheres marisqueiras e do seu saber/fazer. Faz-se cada vez mais necessário estudos mais aprofundados e com ferramentas como aquelas propostas na Ater Feminista, para demonstrar o quão rica é a atividade da cata do marisco desenvolvida pelas mulheres marisqueiras.

ABSTRACT: The shellfish gatherers belonging to the Itaipava community, in the municipality of Itapemirim-ES, have been working with the collection and sale of shellfish since they were very young and their knowledge passed between generations remains very strong in the locality. The objective of this work was to gather information about organizations and knowledge about shellfish gathering, and about the ways of thinking and acting in this daily life, with the aim of identifying and recognizing the traditional knowledge of shellfish gatherers. This information was obtained through methodological tools of feminist Ater, and collected from the experiences lived as a scholar/extensionist at INCAPER. From the data constructed in this experience, Godelier's (1969) methodology on the "Rationality of Economic Systems" was applied later in the research, and through these data it was possible to characterize the structures of production, distribution and consumption of seafood restaurants. The shellfish gatherers use hand tools to carry out their work, such as diggers and machetes to extract the shellfish from the stone. To store and transport seafood, they use wheat flour bags or dog food bags and use bicycles to get around. For individual protection, they basically use caps, sunscreen and UV T-shirt . Shellfish collection takes place when the tide is low. In addition, the lunar phase is always observed to ensure the success of the activity.The handicrafts, the production of baked goods and the cleaning guarantee a complement of income for the shellfish gatherers. The distribution of products occurs equally, and the amount of shellfish is shared with all those who participated in any of the production stages (collection, cooking, depinning and packaging). In the handicraft activity, the distribution of the income acquired in the commercialization of the same happens by the individual volume of production. The income obtained from baked goods is measured by the hours worked. Personal consumption occurs more frequently with seafood and fish, while handicrafts and baked goods, on a sporadic basis. Finally, this study showed that shellfish gatherers from Itaipava play key roles in generating income and adding value to the local fishing economy, as well as playing a role in strengthening and maintaining a socio-cultural fishing know-how that has been transmitted and resignified between generations. Therefore, public policies focused on the development of tools that contribute to enhancing the strategies of visibility, recognition and appreciation of women shellfish gatherers and their know-how are needed. More and more in-depth studies are needed, using tools such as those proposed by Ater Feminist, to demonstrate how rich the activity of shellfish gathering is carried out by shellfish gatherers.


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