Carpintaria naval de Itaipava: aspectos identitários e econômicos.
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RESUMO: A carpintaria naval de embarcações pesqueiras de Itaipava possuem para a economia do município uma grande importância, pois é através dessa atividade que se inicia toda a cadeia produtiva da pesca, visto que trata-se do instrumento principal de trabalho. A frota pesqueira de Itaipava não atua somente no Espírito Santo, mas em todo o litoral brasileiro, e é admirável a forma com que esses barcos são construídos, artesanalmente com instrumentos simples e sem plantas de projetos. O objetivo foi descrever a partir de uma abordagem antropológica a construção de barcos a partir do ponto de vista dos protagonistas desta atividade e não de categorias e critérios definidos a priori pela Engenharia Naval ou pelas agências do Estado, bem como, identificar os aspectos técnicos da atividade, aqueles relacionados à própria organização social do grupo e à identidade social local. A metodologia envolveu observação direta, frequência ao estaleiro, e realização de entrevistas abertas e semiestruturadas, a fim de descrever as estruturas de produção, repartição e consumo que constituem a organização social da atividade de construção de barcos em Itaipava, município de Itapemirim. A pesquisa foi realizada no final de 2020 até meados de 2022, no estaleiro de Itaipava, município de Itapemirim - ES. Os envolvidos foram carpinteiros navais, e pescadores que realizam algum serviço de carpintaria, donos de embarcações, associações de pesca. Nos resultados dessa pesquisa a transmissão do conhecimento e do saber, neste caso sobre a carpintaria naval artesanal, o contexto onde isso ocorre é familiar, através da oralidade e demonstração, onde esses conhecimentos são passados adiante, permitindo a continuidade da profissão. Sobre o processo de construção das embarcações, inicialmente é necessário estipular as formas de trabalho e de pagamento, chamados localmente de “modos de combinar” que podem ser do tipo “empreitada”, “por etapas”, “barco na água" e “sociedade”. Por existir algumas dificuldades com linhas de crédito de agências financiadoras, alguns pescadores programam-se financeiramente durante algum tempo, com um valor necessário para iniciar o processo de construção sem a necessidade de parar o andamento da construção ou reforma. Outros usam o dinheiro da pesca para estas finalidades. O proprietário é responsável por toda documentação da construção de sua embarcação, alguns têm auxílio e orientação da associação de pescadores em que faz parte. A construção de uma embarcação é dividida em três etapas principais, sendo a etapa da construção da quilha a mais importante, pois é ela quem vai definir o tamanho e suportar toda estrutura restante do barco. Os carpinteiros navais não trabalham com projetos pré-estabelecidos, todas as medidas da madeira são baseadas em suas experiências práticas. Existem características específicas que identificam os barcos de Itaipava, como o ângulo da proa e da popa, a forma e localização da casaria, e os esteios usados como escadas. Como conclusão, na materialização do objeto “barco” se manifestam não só as relações de trabalho, mas as relações de amizade, honestidade e confiança. Todo conhecimento adquirido pelos carpinteiros navais ao longo de suas vidas carrega consigo uma importante fonte de identidade social.
ABSTRACT: The naval carpentry of fishing vessels in Itaipava is of great importance to the economy of the municipality, as it is through this activity that the entire productive chain of fishing begins, since it is the main instrument of work. The Itaipava fishing fleet operates not only in Espírito Santo, but throughout the Brazilian coast, and the way in which these boats are built is admirable, handcrafted with simple instruments and without blueprints. The objective was to describe, from an anthropological approach, the construction of boats from the point of view of the protagonists of this activity and not of categories and criteria defined a priori by Naval Engineering or by State agencies, as well as to identify the technical aspects of activity, those related to the social organization of the group and the local social identity. The methodology involved direct observation, going to the shipyard, and carrying out open and semi-structured interviews, in order to describe the production, distribution and consumption structures that constitute the social organization of the boat building activity in Itaipava, municipality of Itapemirim. The research was carried out at the end of 2020 until mid-2022, at the Itaipava shipyard, in the municipality of Itapemirim - ES. Those involved were naval carpenters, and fishermen who perform some carpentry service, boat owners, fishing associations. In the results of this research, the transmission of knowledge and knowledge, in this case about artisanal naval carpentry, the context where this occurs is familiar, through orality and demonstration, where this knowledge is passed on, allowing the continuity of the profession. Regarding the process of building the vessels, it is initially necessary to stipulate the forms of work and payment, locally known as “methods of agreement” which can be of the type “contract work”, “in stages”, “boat in the water” and “partnership "Because there are some difficulties with lines of credit from funding agencies, some fishermen program themselves financially for some time, with a necessary amount to start the construction process without the need to stop the progress of construction or renovation. Others use the money from fishing for these purposes. The owner is responsible for all documentation of the construction of his vessel, some have help and guidance from the fishermen's association in which he is a member. The construction of a vessel is divided into three main stages, the construction stage the most important keel, as it is what will define the size and support the entire remaining structure of the boat. Naval carpenters do not work with projects pre-established, all measurements of the wood are based on their practical experiences. There are specific characteristics that identify the boats from Itaipava, such as the angle of the bow and stern, the shape and location of the houses, and the struts used as ladders. In conclusion, in the materialization of the object “boat” not only work relationships are manifested, but also friendship, honesty and trust. All knowledge acquired by ship carpenters throughout their lives carries with it an important source of social identity.
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