Um jogo de tabuleiro dos Guarani Mbyá (Tambeopé) : saberes e fazeres indígenas na matemática escolar pelo viés da etnomatemática

Bongiovani, Lucas Mulinari (2022)

trabalho de conclusão de curso

RESUMO: Historicamente, a matemática eurocêntrica se espalhou impondo seu modo de saber e fazer a grande parte do mundo, apagando e minimizando outras formas do pensar matemático advindo de sociedades, povos e grupos socialmente e culturalmente marginalizados. Nesse sentido, como forma de criticar esse modelo tradicional da matemática escolar e aliado às ideias do pesquisador brasileiro Ubiratan D’Ambrosio, a respeito do Programa Etnomatemática, a presente pesquisa busca despertar um olhar etnomatemático na educação matemática e discute como saberes e fazeres indígenas podem contribuir para um ensino-aprendizagem significativo da matemática escolar, além da formação de estudantes conscientes da sua história e cultura e aliados à luta contra preconceitos. Esta pesquisa, de natureza qualitativa etnográfica, tem como objeto de estudo um jogo de tabuleiro identificado junto aos Guarani Mbyá (Tambeopé) de Aracruz, no município do Estado brasileiro do Espírito Santo e as ideias matemáticas potencialmente a ele associadas, que se manifestam a partir de uma natureza própria de seus atores. Ademais, levanta questões pertinentes para compreendermos como se dá a validação de etnomatemáticas na matemática escolar por meio de perspectivas teóricas. A pesquisa de campo envolveu tanto a referida comunidade indígena quanto um grupo de professores de matemática participantes de um encontro promovido como ação de pesquisa. Dentre os resultados encontrados; como a descrição do jogo e seus aspectos variáveis (tabuleiro e regras) ou invariáveis (disputa entre “poderes” aparentemente desiguais); entendeu-se que desempenhar um trabalho docente sob a lente da Etnomatemática contribui para um ensino transcultural e transdisciplinar, promovendo a diversidade cultural e o diálogo entre as fronteiras do saber na perspectiva da formação humana.

ABSTRACT: Historically speaking, Eurocentric mathematics has spread, imposing its way of knowing and doing to a large part of the world, erasing and minimizing other forms of mathematical thinking from socially and culturally marginalized societies, peoples and groups. In this sense, as a way of criticizing this traditional model of school mathematics and allied to the ideas of the Brazilian researcher Ubiratan D'Ambrosio, regarding the Ethnomathematics Program, this research seeks to awaken an ethnomathematics look at mathematics education and discusses how indigenous knowledge and practices can contribute to a significant teaching-learning process of mathematics in schools, besides contributing to the formation of students aware of their history and culture and allied to the fight against prejudice. The goal of this qualitative ethnographic research is to study a board game identified with the Guarani Mbyá (Tambeopé) of Aracruz, in the municipality of the Brazilian state of Espírito Santo and the mathematical ideas potentially associated with it, which are manifested from the nature of its actors. Furthermore, this research raises relevant questions to understand how ethnomathematics is validated in school mathematics through theoretical perspectives. The field research involved both the aforementioned indigenous community and a group of mathematics teachers participating in a meeting that was promoted as a research action. Among the results found; as the description of the game and its variable aspects (board and rules) or invariable (dispute between apparently unequal “powers”); it was understood that performing teaching work under the lens of Ethnomathematics contributes to a transcultural and transdisciplinary teaching, promoting cultural diversity and dialogue between the frontiers of knowledge in the perspective of human formation.