Memórias, identidades e territorialidades em Nova Venécia: reflexões sobre o eurocentrismo e racismo
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O presente trabalho discute a necessidade de se repensar as origens étnicas de Nova Venécia, município capixaba amplamente representado como “terra de italianos”. Essa representação eurocêntrica e racista tem se perpetuado no imaginário veneciano, invisibilizando povos originários, afro-brasileiros e nordestinos da história local. Para tanto, objetiva-se compreender como surgiu e como se perpetuou no imaginário da população de Nova Venécia essas representações eurocêntricas e racistas sobre suas origens étnicas e quais as consequências desse fenômeno sobre as identidades e territorialidades dos grupos sociais que compõem sua população. Para isso, analisou-se que tipo de representação de Nova Venécia consta em sua historiografia e nos trabalhos acadêmicos a respeito do município e verificamos que tipo de representações sobre a formação do território veneciano são disseminadas através das manifestações culturais locais, como festejos e os símbolos municipais. Em seu embasamento teórico, o trabalho se ancora nos conceitos de poder simbólico, representação, memória e história, enquadramento da memória, território e territorialidade, bem como a ideia de raça. Com base nesse arcabouço teórico-conceitual, analisamos as obras “História, Geografia Organização Social e Política do Município de Nova Venécia” e “À sombra do Elefante”, as quais constituem o restrito leque de obras que tratam especificamente da historiografia local, bem como os símbolos oficiais, monumentos e eventos de massa de Nova Venécia. Os resultados obtidos a partir dessas análises demonstram que a representação hegemônica de Nova Venécia no imaginário de sua população se encontra mais próxima das representações do território municipal que constam na obra “História, Geografia Organização Social e Política do Município de Nova Venécia” do que daquelas da obra “À sombra do Elefante”, haja vista a primeira corroborar o viés eurocêntrico de que estamos a discorrer, ao conceber um protagonismo italiano no território em detrimento de todas as outras matrizes étnicas, ao passo que a outra obra tenta trazer uma Nova Venécia plural no que tange a pessoas/personagens, dedicando a boa parte do livro aos troncos étnicos não-europeus que estão na matriz da população local. Quanto aos símbolos, monumentos e eventos de massa, pode-se afirmar que configuram um caso típico de racismo institucional, haja vista os apoio seletivo do poder público a essas manifestações corroborar o desenvolvimento de uma suposta identidade italiana sobre o município e os munícipes, invizibilizando outras matrizes étnicas da população local.
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